sábado, 13 de agosto de 2016

Baião

Baião

Instrumentos do Baião: triângulo, acordeon e zabumba

Gênero musical. O termo deriva de baiano, uma dança popular nordestina. Em fins do século XIX já era conhecido no interior nordestino, sendo executado em sanfonas pelo sertão, sempre em unidades de compasso par. 

Restrito e esquecido no interior nordestino, o baião chegaria à música popular brasileira urbana através da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. E é Luiz Gonzaga quem afirma sobre o baião, no encontro que compôs com o parceiro o primeiro baião que foi gravado: "...baião telúrico e imortal. Nesse baião esquecido e circunscrito àquele nosso Nordeste sofredor, e que ninguém soube até hoje ou se atreveu a lançá-lo aqui com as roupagens que ele merece". Em 1946 foi gravado o primeiro baião, "Baião", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, por 4 Ases e um Curinga, pelo selo Odeon, cuja letra dizia, "Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião/E quem quiser aprender/É só prestar atenção". O próprio Luiz Gonzaga lançaria em seguida um série de baiões de sucesso, "Juazeiro", "Xanduzinha", "Paraíba", "Baião de dois" e muitos outros. 

O baião tornou-se em pouco tempo uma moda avassaladora. Em 1949, dizia o periódico Radar, "A ordem agora é baião - coqueluche nacional de 1949", e o Diário Carioca afirmava, "o baião vem fazendo estremecer todo o vasto império do samba, e já agora não se poderá mais negar a influência decisiva desse gênero musical na predileção do povo". Em 1950 Luiz Gonzaga lançou com sucesso uma composição que aludia à moda do baião, "A dança da moda" de sua autoria e Zé Dantas. A partir dalí, diferentes artistas começaram a gravar o baião Marlene, Emilinha Borba, Ivon Curi, Carolina Cardoso de Meneses, Carmem Miranda, Isaura Garcia, Ademilde Fonseca, Dircinha Batista, Jamelão, Adelaide Chiozzo e Stelinha Egg, entre outros. A cantora Carmélia Alves foi aclamada como a "Rainha do baião", e Luiz Gonzaga, o Rei. Pouco depois, Claudete Soares tornou-se a princesa e, Luiz Vieira o príncipe do baião. 

A partir de 1950 tornou-se um ritmo internacional, com o baião "Delicado" de autoria de Valdir Azevedo que recebeu ao longo dos anos 50 orquestrações dos maestros americanos Stan Kenton e Percy Faith. No exterior chegou a ganhar imitações, como foi o baião "O baião de Ana", interpretado pela atriz italiana Silvana Mangano no filme "Arroz amargo", e que era de autoria dos seus conterrâneos V. Roman e F. Gionda. Em 1953 a música do filme "O cangaceiro", baseado no baião "Muié rendeira", recebeu a menção especial no festival de Cannes na França. Até o início dos anos 60 foi o gênero musical brasileiro de maior influência no exterior, posto que somente começou a perder a partir da Bossa Nova. 

São encontradas inúmeras influências do baião, e segundo alguns, até mesmo o conjunto de rock inglês The Beatles mostraria em algumas composições, como "She loves you", influências da marcação rítmica do baião. Embora tenha caído em relativo esquecimento nos anos 60, em função do surgimento de novos ritmos musicais como a Bossa Nova e o rock and roll, continuou sendo cultivado por diversos artistas, especialmente a partir dos anos 70, entre os quais Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, Jorge de Altinho e muitos outros. Em plena euforia do Tropicalismo, Gilberto Gil lançou músicas com nítida inspiração rítmica do baião, a começar com "Domingo no parque", que participou do Festival de Música da Record de 1967, ao lado de "Alegria alegria" de Caetano Veloso, dando início ao movimento Tropicalista. No começo dos anos 70 voltou a influenciar as novas gerações de artistas, como Raul Seixas, que realizaram uma fusão do rock com o baião, criando o baioque. Continua a ser cultivado por todo o Nordeste, tendo ainda inúmeros cultivadores em outras regiões do país.